quinta-feira, 26 de junho de 2008

Pare de fumar já

“É só um cigarrinho.” Desse jeito inocente um monte de gente começa a fumar. Duro, depois, é largar.

Por: Tatiana Schibuola

Visualize o seu último cigarro. Que sabor ele terá? Como você se sentirá quando jogá-lo fora?". Com essas perguntas, o holandês René convida fumantes ao redor do mundo a registrar o último trago - e deixar de uma vez por todas o cigarro. O resultado está no blog theartofquitting.com, e nas imagens que ilustram esta reportagem.

Apesar de inspirador, pode ser que para você deixar de fumar não seja tão simples. E talvez também não para os cerca de 1,3 bilhões de fumantes em todo o mundo. Para quem fuma, acender um cigarro, dar um trago e soprar fumaça para fora é, no mínimo, uma delícia. Relaxa.

POR QUE ELE VICIA
A explicação para esse tesão vem das reações químicas provocadas pela nicotina, uma das mais de 4,7 mil substâncias tóxicas do cigarro. Fala-se dela o tempo todo porque é a responsável pela dependência. Ao tragar, ela chega rapidamente até o cérebro e ativa receptores específicos (para entender, pense numa chave que encontra a sua fechadura). A seguir, vem a liberação de dopamina, neurotransmissor ligado à sensação de prazer.

E assim como qualquer outra droga - do álcool à heroína -, o efeito acaba bem rápido. E como o seu corpo adora sentir prazer, logo pede mais e mais. A partir do momento em que experimenta o primeiro cigarro, leva-se mais ou menos um mês para que o vício se estabeleça. A não ser em raros casos de gente que consegue, durante toda a vida, fumar só um cigarro após o jantar, a tendência é aumentar o consumo. "O organismo precisa de doses cada vez maiores para se satisfazer", avisa Verena Castellani, psiquiatra e pesquisadora do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas.

OS PROBLEMAS MÉDICOS
Câncer de boca, câncer de pulmão, obstrução pulmonar, doenças cardiovasculares como infartes e derrames, osteoporose... Provavelmente você já ouviu falar - há um sem-número de males relacionados ao cigarro que podem levar à morte. Segundo a Organização Mundial de Saúde, quem fuma por muito tempo tem 50% mais chance de morrer de uma dessas enfermidades. Talvez esses dados não a afetem porque as complicações começam a aparecer a partir dos 35 anos e nenhuma de suas amigas fumantes sofreu um infarte.

Mas acredite: a conta do cigarro chega mais rápido do que você pensa, e aparece logo na cara. Dentes amarelos, mau hálito, pele sem viço. "A nicotina tem efeito vasoconstritor. Ou seja, reduz o diâmetro dos pequenos vasos, dificultando o aporte de oxigênio e de nutrientes que as células recebem por meio do sangue. Como conseqüência, a pele envelhece precocemente", afirma o cirurgião plástico Ruben Penteado, de São Paulo.

Os estudos mostram que os primeiros sinais de doenças graves já estão presentes em jovens fumantes. Para ter idéia, o coração deles bate duas ou três vezes mais em cada minuto - lembra dos problemas cardiovasculares? Por último, tem o fôlego. Eles têm três vezes mais falta de ar do que os que não fumam.

QUAL É A HORA DE PARAR?
Está bem, você já se convenceu de que precisa deixar o Clube da Fumaça. Até tentou parar uma ou duas vezes, mas não agüentou. "As recaídas acontecem em cerca de 40% das tentativas", avisa Jaqueline Scholz Issa, cardiologista e diretora do Ambulatório de Tratamento do Tabagismo do Incor, em São Paulo. Basta um desentendimento com o namorado e a fissura se instala. Um mísero cigarro desencadeia novamente o mecanismo do vício.

É bom deixar claro que não se trata de fraqueza. O tabagismo vem sendo encarado por médicos como doença, que exige tratamento - de remédios a terapia.

Quer dizer que não dá para parar sozinha? Dá, mas isso requer estratégia, organização e determinação (veja o box). É que além da vontade louca de fumar, é preciso conviver com outros sintomas desagradáveis da abstinência como irritabilidade, alteração de apetite, alteração do sono e até depressão. Por isso, recomenda-se buscar ajuda médica. Pneumologistas, clínicos gerais, psiquiatras e cardiologistas podem cuidar do problema.

A grande novidade no arsenal terapêutico, hoje, é um medicamento à base de tartarato de vaneciclina, substância capaz de ligar-se especificamente aos receptores de nicotina no cérebro, provocando sensação de saciedade. Os médicos andam bem satisfeitos com as tais pílulas e garantem que elas aumentam a chance de torná-la ex-fumante mas, ainda assim, alertam para o fato de que não fazem milagres. "Ninguém pára porque tomou o remédio. A motivação de cada pessoa faz toda a diferença", explica Jaqueline.

Outro recurso importante nessa batalha é a terapia cognitivo-comportamental, que é focada num determinado problema. O tratamento ajuda a lidar com a fissura, a mudar hábitos relacionados ao cigarro e também a identificar a necessidade de tomar antidepressivos.

Largou o cigarro? Nada de dar um traguinho para comemorar (parece piada, mas acontece). Recomenda-se que o tratamento tenha duração de até seis meses para reduzir o risco de recaídas. Aí, é só respirar livremente.

O MEDO DE ENGORDAR
O medo de engordar faz as mulheres desistirem de largar o cigarro, sugere uma pesquisa da Universidade de Michigan, publicada em novembro de 2007. Dois mecanismos tornam a ex-fumante suscetível ao ganho de peso: a nicotina tira o apetite e acelera o metabolismo. A falta dela significa que o corpo vai gastar menos energia; depois, vem a ansiedade e a falta de algo na boca - aí, a ex-fumante come mais. O ganho de peso médio fica entre 3 ou 4 quilos. Acompanhamento nutricional e terapia ajudam a manter o controle. Mas nada de dietas doidas. Mais importante, nesse momento, é parar
de fumar.

10 DICAS PARA FICAR LIVRE DO CIGARRO

1_Marque data para o adeus.
2_Livre-se de maços, isqueiros, fósforos e todo o arsenal.
3_Conte para todo mundo.
4_Procure manter-se longe das bebidas alcoólicas.
5_Evite companhias fumantes.
6_Vá fazer exercícios.
7_Quebre pequenos hábitos da rotina associados ao cigarro.
8_Tenha sempre chiclete sem açúcar ou cenouras baby na bolsa.
9_Escove os dentes a toda hora.
10_Guarde o dinheiro que gastava com o cigarro e use-o para comprar um presente para você mesma.

OS DOCUMENTOS SECRETOS DA INDÚSTRIA DO TABACO
GLOSS investigou e descobriu que o Instituto Nacional do Câncer (Inca) publicou em seu site amostras de alguns documentos secretos das indústrias do tabaco que mostram como elas e seus executivos se posicionam com relação a alguns assuntos relacionados ao tabagismo. Veja nas próximas páginas, surpreenda-se e, para quem fuma, pense se vale a pena continuar.

DEPENDÊNCIA DA NICOTINA
"Nós não ocultamos antes, nem ocultamos agora, nem nunca ocultaremos nós não temos nenhuma pesquisa interna que prove que fumar causa dependência."
Martin Broughton, Chief Executive British American Tobacco, 1996

"Aqueles que definem fumar como uma dependência o fazem por razões ideológicas e não científicas"
Posição da Philip Morris em 1996

Entrevista para uma revista - John Carlisle da companhia TMA (UK, 1998)
Pergunta - A nicotina causa dependência?
Carlisle - A definição de dependência é ampla e variada. Pessoas são dependentes de Internet. Outras são dependentes de shopping, sexo, chá e café. A linha que eu consideraria é a de que o tabaco não causa dependência e sim de que é formador de hábito.

"A nicotina é um componente natural do fumo e apresenta propriedades farmacológicas que contribuem para o prazer. Mesmo sendo uma parte importante da experiência de fumar, a nicotina não é a única razão para fumar. Aspectos culturais e sociais, entre outros, estão envolvidos no ato de fumar, que é uma escolha de caráter puramente individual. Certamente é difícil deixar de fumar para alguns fumantes, mas não existe nada em nossos produtos que retire do fumante a sua capacidade de parar de fumar"
Fonte: http://www.souzacruz.com.br/

"Nicotina causa dependência. Nós estamos, portanto, no ramo de vender nicotina, uma droga que causa dependência."
Addison Yeaman from Brown and Williamson - B&W, 1963

"A nicotina tem a propriedade de uma droga de abuso. Ela tem propriedade de droga que causa dependência. Estes (os resultados) são completamente contraditórios com a posição da indústria de que a nicotina está nos cigarro para dar sabor. Nós sabemos que eles (os camundongos) pressionavam a alavanca devido aos efeitos da droga nos cérebros dos animais. Nós também sabemos a partir de estudos que se a droga fosse cocaína ou morfina ou álcool os camundongos continuariam a pressionar a alavanca. Nós encontramos o mesmo com a nicotina"
Informções do cientista Victor DeNoble da Philip Morris sobre experimentos em camundongos nos quais injetou nicotina diretamente no coração - Philip Morris, quoted on Dispatches, Channel 4, 1996

MARKETING PARA CRIANÇAS
"Eles representam o negócio de cigarros amanhã. À medida que o grupo etário de 14 a 24 anos amadurece, ele se tornará a parte chave do volume total de cigarros, no mínimo pelos próximos 25 anos"
J. W. Hind, R.J. Reynolds Tobacco, internal memorandum , 23rd January 1975

"Atingir o jovem pode ser mais eficiente mesmo que o custo para atingí-los seja maior, porque eles estão desejando experimentar, eles têm mais influência sobre os outros da sua idade do que eles terão mais tarde, e porque eles são muito mais leais a sua primeira marca"
Escrito por um executivo da Philip Morris em 1957

"Um cigarro para o iniciante é um ato simbólico. Eu não sou mais a criança da minha mãe, eu sou forte, eu sou um aventureiro, eu não sou quadrado... A medida em que a força do simbolismo psicológico diminui, o efeito farmacológico assume o papel de manter o hábito"
Rascunho de relatório do Quadro de Diretores da Phillip Morris, 1969.

"É importante saber tanto quanto possível sobre os padrões de tabagismo dos adolescentes. Os adolescentes de hoje são os potenciais consumidores regulares de amanhã, e a grande maioria dos fumantes começa a fumar na sua adolescência . Devido ao nosso grande espaço de mercado entre os fumantes mais jovens, a Philip Morris sofrerá mais do que qualquer outra companhia com o declínio do número de adolescentes fumantes"
Memorando enviado por um pesquisador da Philip Morris, Myron E. Johnston para Robert B. Seligman, Vice Presidente de pesquisa e desenvolvimento da Philip Morris, 1981


LINKS RELACIONADOS
No Centro para o Controle e Prevenção de Enfermidades - CDC dos Estados Unidos há um compilado com todos os principais endereços eletrônicos para o acesso aos documentos. Seguem alguns:

http://www.cdc.gov/tobacco
RJ Reynolds Tobacco Company - http://www.rjrtdocs.com
Philip Morris - http://www.pmdocs.com/
http://www.tobaccoinstitute.com/
British American Tobacco - http://www.cctc.ca/
Action on smoking and health - http://www.ash.org.uk/
http://tobaccofreekids.org/campaign/global

Fonte: http://www.inca.gov.br/

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