segunda-feira, 7 de julho de 2008

Acabe com o vício do 'ããããã', 'ééééé'

Reinaldo Polito
O gerente estava... ããããã... no escritório da empresa e... ããããã..., aí tocou o... ããããã... Se você já estava ficando irritado com o "ããããã" que usei só como exemplo, imagine como as pessoas se sentem diante de alguém que se expressa com esse tipo de vício o tempo todo.

Por melhor e mais interessante que seja a mensagem, o excesso de "ããããã" se transforma num ruído tão avassalador que mata a concentração do interlocutor, mesmo que ele esteja muito interessado em acompanhar e prestar atenção no raciocínio.

O "ããããã", "ééééé" e outros, que fazem parte da mesma família, se intrometem na comunicação por um motivo curioso: nosso pensamento trabalha a uma velocidade quatro vezes mais rápida que as palavras.

Em vista desse fato, é comum sabermos o que vamos dizer, só que as palavras ainda não surgiram para identificar o que desejamos comunicar. Sem nos darmos conta, procuramos uma forma de nos livrar desse desconforto.

Como conseqüência, enquanto procuramos as palavras damos uma espécie de aviso de que o pensamento está pronto e de que só falta externá-lo - aí é que entra o "ããããã". É como se disséssemos assim: "Eu sei o que quero dizer 'ééééé', 'ããããã'..."

Um "ããããã" aqui, outro ali não comprometem a qualidade da comunicação. Em determinadas circunstâncias podem até conferir certa naturalidade à maneira de falar. Entretanto, se participarem da fala com muita freqüência, podem tirar a concentração dos ouvintes.

Para eliminar o vício do ããããã é importante que tenha consciência da presença dele na sua comunicação. Para isso, valem as mesmas sugestões que dei para acabar com o "né?".

Para saber se está usando o "ããããã" com freqüência, faça uma auto-avaliação. Observe se ao conversar normalmente costuma preencher as pausas com esse vício.

Outra maneira boa de saber se esse intruso está atrapalhando sua comunicação é pedir ajuda a um amigo ou a alguém da sua família. Provavelmente, como a pessoa está acostumada a ouvi-lo já dirá se você possui ou não o vício.

Outra boa solução é gravar suas conversas mais íntimas, especialmente quando estiver falando ao telefone. Deixe o gravador ligado durante toda a conversa para que possa fazer uma boa avaliação.

Talvez você fique até um pouco contrariado ao descobrir que usa tantos "ããããã'. Ficará mais irritado ainda ao perceber que usa o vício independentemente da sua vontade. Porém, depois de tomar consciência de que você possui o vício, aos poucos conseguirá afastá-lo.

Tenha muita paciência, pois quanto mais você se pressionar para encontrar a palavra que irá vestir seu pensamento, mais tenderá a usar o "ããããã". Por isso, lembre-se sempre de que as palavras demoram um pouco mais para surgir, mas aparecem.

Valerá a pena você se esforçar para ficar em silêncio enquanto aguarda a palavra que irá corporificar suas idéias. Esse momento de silêncio funcionará como uma pausa expressiva e poderá criar maior expectativa sobre o que pretende comunicar, ou ainda valorizar o que acabou de transmitir.


Não seja negligente com esse aspecto tão relevante da comunicação. Dedique-se a eliminar esse vício que, de maneira geral, só atrapalha o resultado da mensagem. Tenha certeza de que assim se sairá melhor ao conversar com as pessoas ou quando tiver que falar em público.

é mestre em ciências da comunicação, palestrante e professor de expressão verbal. Escreveu 15 livros que venderam mais de 1 milhão de exemplares

Site: www.reinaldopolito.com.br
e-mail: polito@uol.com.br

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