segunda-feira, 24 de março de 2008

Será que esse pão é magro mesmo?

Depois de tantas denúncias sobre incorreções nos rótulos dos alimentos, veja como conseguir bons resultados na dieta

SIMONE SERPA

Não bastasse o leite adulterado com soda cáustica e água oxigenada, que colocam em risco a nossa saúde, a gente ainda é obrigada a lidar com a constatação de que diversos produtos light e diet não apresentam os valores energéticos e nutricionais especificados na embalagem. Estão nessa lista negra o leite (sim, de novo ele...), os pães de fôrma, as barrinhas de cereal e outros tantos que entram no cardápio de quem se preocupa com a qualidade de vida e quer manter ou perder peso. Diante disso, o que fazer? Como contabilizar as calorias consumidas no dia-a-dia? Fomos buscar as respostas com 5 dos especialistas em nutrição mais respeitados do país. Confira o que eles têm a dizer.

Moderação é o segredo
“Não mudei minha orientação às pacientes em relação ao consumo destes produtos pelo simples fato de que acredito que eles ainda sejam válidos e seguros para uma dieta balanceada. É claro que existem variações e arredondamentos não tão precisos. E é ótimo que a legislação e a fiscalização sejam mais rígidas, pois isso obrigará a indústria nacional a andar cada vez mais na linha. O importante é que as pessoas leiam o rótulo de forma crítica e, mais do que isso, tenham hábitos moderados e equilibrados à mesa, que coloquem no prato itens de todos os grupos nutricionais. Quem agir dessa forma, certamente garantirá uma alimentação saudável e conseguirá emagrecer.”
Cynthia Antonaccio, nutricionista, mestre em nutrição pela Universidade de São Paulo, coordenadora da clínica Equilibrium e do Fitness Brasil (empresa de cursos na área de fitness e bem-estar na América Latina)

Comida in natura é a boa
“Em geral, procuro não estimular a ingestão de industrializados justamente por saber que, além da composição em muitos casos não corresponder ao informado na embalagem, alguns contêm ingredientes não-saudáveis. Para reduzir a diferença entre o que é calculado e prescrito e o que é consumido, prefiro indicar alimentos naturais. Agindo dessa maneira, mesmo que esporadicamente se adote algo sem descrição nutricional correta, isso não causará tanta alteração na balança.”
Nelcy Ferreira da Silva, nutricionista-sanitarista (DF) e atual conselheira do Conselho Federal de Nutrição

Valor nutricional é o que vale
“Quando prescrevo um regime não me baseio em valores energéticos, e sim nas taxas dos nutrientes. Por isso algumas calorias a mais não vão causar muitos prejuízos no objetivo que estou buscando junto à minha cliente. Até porque essa variação calórica acontece tanto no preparo de receitas caseiras quanto nos produtos que seguem as tabelas estrangeiras. Mesmo com essas pequenas incorreções, o que é preciso ter sempre em mente é a qualidade da comida, se ela é uma boa fonte de fibras, vitaminas e minerais, se possui pouca gordura, etc. Na prática, é comer uma barra de cereal em vez de um pão de queijo, por exemplo.”
Verônica Ginani, nutricionista do centro de excelência da Universidade de Brasília (DF)

Contar calorias, sempre
“Notícias que envolvem erros como esses nos colocam em uma situação embaraçosa. Na USP damos aulas às pessoas que participam dos programas de emagrecimento para ensiná-las a ler e interpretar os rótulos e a calcular as calorias consumidas nas porções indicadas no plano alimentar. Agora, se eles trazem informações erradas fica difícil. A nossa recomendação é que cada um se mantenha o mais fiel possível aos valores passados nas tabelas prescritas. Eu lamento muito que no Brasil os órgãos públicos de fiscalização não sejam sérios e que permitam que esse tipo de coisa ainda aconteça. No fim, nós, nutricionistas, temos que fazer mágica.”
Sonia Trecco, nutricionista-chefe da Divisão de Nutrição e Dietética do Instituto Central do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo

Melhor é semelhor ser fiel à dieta
“Quando elaboro um programa nutricional para pessoas que necessitam de reeducação alimentar, utilizo instrumentos independentes dos rótulos. Mas é lógico que as suas informações nutricionais são fundamentais, já que as uso para nortear a compra no supermercado pelas pacientes. Se não se pode confiar nas embalagens, como orientar um diabético, por exemplo? Neste momento de dúvidas, indico que se continue observando as latas e caixas, porém com senso crítico. De qualquer maneira, se o plano dietético proposto for seguido, o sucesso do regime não será prejudicado. Espero que os órgãos públicos assumam o dever moral e jurídico de fiscalizar preventivamente com eficiência as empresas no Brasil, para que fatos como esses não voltem a ocorrer.”
Salete Brito, nutricionista do Hospital das Clínicas da Universidade de Campinas (SP)

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