Mesmo sem o manual, é possível efetuar verificações
importantes para manter em ordem seu automóvel
Texto: Eduardo Hiroshi - Fotos: Fabrício Samahá
Toda a eletrônica presente nos automóveis de hoje diminuiu as possibilidades dos mais curiosos de colocarem a mão na massa. Na década de 70, ensinava-se até a desmontar o cabeçote do motor para a descarbonização. Hoje a maior parte das tarefas requer o conhecimento e os equipamentos de uma boa oficina, mas isso não significa que não se possa efetuar uma checagem preventiva por baixo do capô.
Cuidar do carro na garagem de casa não é coisa só para fanáticos. A manutenção preventiva aumenta a vida útil do veículo, reduz o risco de acidentes e, de quebra, ainda valoriza o carro na hora da revenda. Exagero? Os engenheiros dos fabricantes garantem que vale a pena -- e, em seus carros particulares, todos eles cumprem o que recomendam.
“A maior vantagem é que, a longo prazo, você economiza dinheiro fazendo a manutenção preventiva”, afirma Marco Aurélio Fróes, consultor técnico da Volkswagen. Em geral, é realmente mais barato conservar do que consertar.
Os manuais de instrução possuem uma lista de itens para serem checados pelo próprio motorista. Algumas marcas, para facilitar, destacam os principais itens para checagem com as cores amarelo, laranja ou azul. O anel da vareta de óleo e a tampa do reservatório do fluido de freio, por exemplo, são pintados nessas cores.
O ideal é seguir as recomendações expressas no manual. Mas o leitor pode ter perdido o livreto ou comprado um carro usado que veio sem ele.
Por isso, o BCWS conversou com cinco fábricas -- Ford, General Motors, Renault, Toyota e Volkswagen -- e elaborou uma lista de itens que devem ser verificados regularmente.
Evite confiar a checagem preventiva do seu veículo ao frentista do posto de combustível: além de seu conhecimento técnico ser discutível, ele tem interesse em vender produtos para ganhar uma comissão. Assim, se disser que seu extintor de incêndio está vencido, que o radiador precisa de aditivo ou mesmo que o nível de óleo está baixo, desconfie.
Óleo do motor Uma vez por semana, com o carro em lugar plano, puxe a vareta para medir o nível. Lembre-se que há duas marcações de referência, uma indicando o “mínimo” e outra para o “máximo”. Se o nível estiver entre essas duas marcas está tudo certo. Algumas marcas recomendam que essa verificação seja feita com o motor frio. Outras sugerem que esteja quente, mas desligado há pelo menos cinco ou dez minutos.
Os dois raciocínios têm sua lógica. O que não deve ser feito, em hipótese alguma, é medir logo após desligar o motor: ó óleo nas partes mais altas do motor leva alguns minutos para descer, o que pode falsear a leitura. Se for preciso adicionar óleo, coloque um produto com as mesmas especificações do que já está no carro, se possível da mesma marca.
Mesmo os automóveis novos devem ser checados periodicamente. No Corsa, por exemplo, a GM considera normal o consumo de até 0,8 litro de lubrificante a cada 1.000 quilômetros rodados. O mesmo acontece com outras marcas. Lembre-se de que o motor em amaciamento pode consumir mais óleo.
Sistema de arrefecimento Nos carros mais antigos era preciso abrir a tampa do radiador. Hoje, basta olhar o vaso de expansão, um reservatório plástico que fica ao lado do motor. Assim como a vareta do óleo, o vaso possui duas marcas indicando “mínimo” e “máximo”. Com o motor frio, a água não deve estar abaixo do nível mínimo, e com o sistema aquecido, o nível não deve ultrapassar a marca máxima.
Completar o reservatório com água é uma questão polêmica. Volkswagen, General Motors e Renault não admitem reposição usando apenas água, pois a mistura com o aditivo de etilenoglicol (que impede a fervura e o congelamento) pode ficar desbalanceada.
Nesses casos, caso seja impossível levar o carro a uma concessionária, os manuais recomendam o uso dos aditivos misturados à água, em proporção que varia de acordo com o projeto do veículo.
Já a Ford é mais flexível. “É normal haver perdas por evaporação. O que evapora, normalmente, é só a água, e não o aditivo. Por isso, se a perda for pequena, pode-se colocar água sem problemas”, afirma Reinaldo Nascimbeni, supervisor de serviços técnicos da empresa. Ele ressalta, no entanto, que se a reposição for grande, é preciso procurar uma concessionária ou colocar água e o aditivo específico na proporção meio a meio.
Fluido de freio O reservatório também fica dentro do compartimento do motor. Procure as marcas que indicam os níveis mínimo e máximo. Havendo necessidade de adicionar fluido, em hipótese alguma coloque óleo comum: utilize o fluido recomendado pelo fabricante.
A maioria dos fabricantes só admite completar o nível do fluido em caso de emergência: em geral, pedem para encaminhar o carro para uma concessionária, que poderá verificar se há algum vazamento no sistema. Lembre-se que todo óleo é higroscópico, ou seja, tende a absorver umidade do ambiente, perdendo suas características. Por isso, troque todo o fluido de freio a cada dois anos.
Limpador e lavador A maioria dos motoristas só se lembra na hora em que precisa deles. Verifique o reservatório do lavador de pára-brisa toda semana, e se for necessário, complete com água. Alguns fabricantes recomendam misturar um aditivo especial, a base de álcool, para facilitar a limpeza do vidro. Aproveite para verificar o estado das palhetas do limpador: a borracha deve estar macia, flexível e limpa. Com o tempo as palhetas se ressecam, prejudicando a varredura e podendo riscar o pára-brisa. Se o carro possui limpador traseiro, aproveite para fazer a mesma verificação atrás.
Fluido da direção No caso de assistência hidráulica ou eletroidráulica, procure o reservatório dentro do compartimento do motor e verifique o nível. Caso necessário, complete com o fluido recomendado pela marca.
Filtro de ar Outro item polêmico. A GM e a Toyota aconselham remover o filtro de ar e limpá-lo, dando leves batidas contra uma superfície limpa. Ford e VW dizem que essa operação é dispensável. “Você pode até danificar o filtro fazendo isso”, diz Marco Aurélio Fróes, da VW. Verifique no manual do proprietário o que é melhor para seu carro.
Câmbio automático Cheque regularmente o nível do óleo da transmissão. Há uma vareta para verificação, semelhante à do cárter. O carro deve estar em lugar plano e com o câmbio na posição P. Já no caso de câmbio manual a verificação pode ser feita em prazos bem longos.
Pneus Toda semana, calibre os pneus a frio. Rodar com a pressão correta economiza combustível e melhora o desempenho e a estabilidade. Não deixe que o frentista do posto de gasolina adivinhe quantas libras seu carro usa: como eles vão saber a calibragem de todos os carros que circulam no País?
Nessa hora, não esqueça de calibrar também o estepe, pois não há nada pior do que precisar da roda sobressalente e descobrir que ela também está murcha. Uma vez por mês, verifique o estado das bandas de rodagem. Caso o desgaste seja irregular, pode estar havendo algum problema na direção ou na suspensão (saiba mais).
Lâmpadas Verifique o funcionamento de todas as lâmpadas, inclusive as traseiras, no mínimo uma vez por semana. A cada seis meses, procure regular o facho dos faróis. Os dos veículos mais antigos podiam ser regulados em casa.
Nos carros mais novos, que usam faróis de superfície complexa, essa operação é mais complicada, sendo aconselhável mandar fazer o serviço em um auto-elétrico. Nessa hora, para garantir a precisão, o tanque do carro deve estar cheio e os pneus calibrados.
Bateria Os carros mais modernos utilizam bateria selada, que duram mais e não precisam de manutenção. O inconveniente é que elas são mais caras. Se seu carro usa bateria normal, verifique o nível da solução a cada 15 dias, e se necessário, complete com água destilada. Não deixe o nível transbordar, pois a solução líquida da bateria possui ácido sulfúrico.
Correias e mangueiras A Toyota recomenda verificar mensalmente o estado de todas as correias e mangueiras visíveis (a correia de acionamento do comando de válvulas fica escondida). Procure por rachaduras e cortes.
Equipamentos obrigatórios Não é item de manutenção preventiva, mas é aconselhável aproveitar a checagem para dar uma olhada em todos os equipamentos obrigatórios: extintor de incêndio, estepe, macaco, chave de roda e triângulo de segurança. Exagero? Não é raro ouvirmos histórias de estepes roubados, especialmente quando o pneu é guardado fora do carro.
Portas Quando a porta começa a ranger, use um óleo fino, do tipo usado em máquinas de costura, ou spray lubrificante. Cuidado para não borrifar óleo em excesso, para não criar um ponto para acúmulo de poeira. Se os vidros ou a chave estiverem se movimentando com dificuldade, prefira usar grafite em pó, que não retém poeira como o óleo.
Veículos a diesel A Toyota recomenda a realização de uma sangria no sistema de combustível uma vez por mês, para evitar a formação de bolhas de ar no sistema. Este procedimento não existe em motores a gasolina ou álcool.
Fora-de-estrada Os veículos que são utilizados constantemente fora de estrada devem ser lavados cuidadosamente, principalmente por baixo. Lama e areia podem se infiltrar nos rolamentos e no diferencial.
Carroceria e chassi Um carro com boa aparência é valorizado na hora da revenda. Procure lavar o carro uma vez por semana, à sombra, usando água e sabão neutro. Enceramento periódico também é aconselhável.
Por baixo (e somente se for necessário), use apenas água: não borrife qualquer tipo de detergente ou lubrificante sob a carroceria, como querosene, óleo de mamona ou fluido de transmissão automática. O óleo acaba provocando o acúmulo de sujeira, reduzindo a vida útil dos componentes de borracha de freios e suspensão e favorecendo o aparecimento da ferrugem.
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