domingo, 31 de agosto de 2008

Pesquisas investigam uso de células-tronco para tratar calvície




IARA BIDERMAN

colaboração para a Folha de S.Paulo

Podem ser fios demais caídos no travesseiro. Ou fios de menos percebidos na cabeça ao se olhar no espelho. No fim das contas, o resultado é o mesmo: você está perdendo cabelo.

E não está sozinho. "A calvície atinge 50% da população masculina", diz o dermatologista Ademir Carvalho Leite Jr., membro da IAT (associação internacional de tricologia, na sigla em inglês) e autor de "Socorro, Estou Ficando Careca" (ed. MG, 120 págs., R$ 26,90).
Editoria de Arte/Folha Imagem

Entre as mulheres, a situação não é muito melhor. Embora a calvície propriamente dita (rarefação capilar de origem genética) atinja cerca de 5% delas, estima-se que metade da população feminina sofra perda e diminuição de fios na vida adulta, segundo Valcenir Bedin, presidente da Sociedade Brasileira para Estudos do Cabelo.

Se tanta companhia não vale como consolo, a vantagem de ter muita gente sofrendo com o problema é que isso estimula as pesquisas científicas. "Há equipes estudando o uso de células-tronco para tratamento da calvície", conta Leite Jr. Também já foi descoberto que são oito os pares de genes envolvidos no crescimento dos cabelos, segundo Bedin, o que abre possibilidades à pesquisa genética.

"Entre as perspectivas, está o desenvolvimento de testes genéticos para diagnóstico da alopecia androgenética [ausência de cabelos provocada pela interação entre os genes herdados e os hormônios masculinos]. O teste poderá determinar o risco e os graus de calvície antes de sua manifestação, permitindo o tratamento precoce", diz Arthur Tykocinski, dermatologista da Santa Casa de São Paulo e presidente do 16º Congresso Internacional de Transplante Capilar, que será realizado no início de setembro em Montréal (Canadá). Tykocinski aponta ainda, entre as novidades na área, os estudos para uso de robôs no processo de transplante de cabelos.

Além da alta tecnologia, Luciano Barsanti, diretor do Instituto do Cabelo e membro do American Hair Loss Council, vê boas perspectivas no uso de substâncias naturais para tratar o problema. "Alguns ativos de plantas estão sendo utilizados com resultados bastante interessantes", afirma. Entre eles, o extrato de chá verde, que tem demonstrado uma ação antifúngica (ajuda a tratar micoses no couro cabeludo, intensificadoras da queda), e o extrato de "ho-show-wu", raiz chinesa que, segundo Barsanti, além de ser antimicrobiana, parece também agir como bloqueador de DHT. A sigla refere-se à dihidrotestosterona, derivado da testosterona ligado à alopecia androgenética.

As perspectivas são boas, mas ninguém deve esperar milagres. "Ainda não existe nada para fazer nascer cabelo. É possível diminuir a rapidez da queda e aumentar um pouco o calibre dos fios, mas não a densidade [número de fios por cm2]", diz Cid Yazigi Sabbag, dermatologista do Hospital Ipiranga (SP) e da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Todo mundo nasce com um número de folículos capilares, de onde saem os fios de cabelo. Na calvície, os fios sofrem um processo de miniaturização e, com o tempo, o bulbo capilar vai se atrofiando. Os tratamentos atuam quando o bulbo ainda não está atrofiado, fazendo com que continue a produzir fios, mesmo que bem finos e menores que o padrão normal.

Portanto, não dá para fazer cabelo novo. Mas, se a expectativa do paciente for realista e o diagnóstico médico bem feito, há várias opções para reduzir os danos.

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