SÃO PAULO - "O profissional que está se formando com certeza deve se interessar por uma remuneração compatível com o que é praticado no mercado, entretanto esse não deve ser o fator decisivo de sua escolha, especialmente se a carreira na qual está ingressando possui um potencial de remuneração elevado a longo prazo", explica o sócio da empresa de recrutamento MindSearch, Alan Grange.
Ivan Witt, sócio da consultoria Steer Recursos Humanos, concorda. "No início da carreira, a preocupação deve ser com o aprendizado, com a transformação do conhecimento em sabedoria. Na faculdade, aprende-se muito, mas não dá para aplicar o aprendizado", afirma, ao lembrar que, via de regra, o salário é compatível com o grau de experiência do indivíduo.
Mas a realidade é outra...
Está certo que o profissional em início de carreira deve aceitar um salário mais baixo, na comparação com os ganhos dos demais. Mas falar é fácil. O difícil é fazer. A realidade é que, segundo Witt, os recém-formados olham para o mercado de trabalho com a remuneração em mente.
E mais: o jovem da classe média tende a comparar o salário a ele ofertado com o padrão de vida que tem em casa. Normalmente, ele se sente frustrado, já que as empresas não costumam pagar muito aos iniciantes.
"Vejo muitos jovens estabelecerem uma relação entre seus salários e o padrão de vida que têm em casa. Eles chegam à conclusão de que necessitam ganhar 20 vezes mais do que ganham hoje e entram em pânico. O certo é sentar com o pai ou a mãe e perguntar como foi seu início de carreira. Certamente, ele ou ela dirá que ganhava pouco e que teve que ralar muito para chegar aonde chegou", diz Witt.
Ele garante que o que mais é valorizado no mercado é a experiência. "Por mais que você estude, no mercado de trabalho, não existe um substituto para a experiência. É preciso vivenciar", garante. "Os jovens estão muito apressados, mas o que dá satisfação é a conquista, é poder dizer: eu consegui, porque batalhei".
O que deve importar?
Se o salário não deve ser um fator crucial na vida do jovem profissional, ele deve se preocupar com outros fatores, ao procurar um emprego. "É válido observar alguns aspectos pensando no futuro de sua carreira", diz Grange. Ele listou esse fatores, em ordem de importância:
* Aptidão para a carreira escolhida, já que, muitas vezes, o recém-formado é influenciado pela carreira de familiares e amigos, e acaba deixando de lado seu verdadeiro talento;
* Oportunidades de mercado dentro dessa carreira. É válido, para o recém-formado, avaliar a relação oferta-demanda de sua área. É fácil observar esse aspecto analisando jornais de grande circulação e sites de empregos e conversando com outros profissionais. Um bom exemplo de carreira com relação interessante entre oferta e demanda é a dos estatísticos. Nessa área, poucos se formam anualmente e a demanda por esses profissionais é elevada.
Witt recomenda ainda atentar-se aos benefícios. "O salário não é constituído só do dinheiro, mas também dos benefícios, tais como plano de saúde, que pode fazer toda a diferença para quem já é casado e tem filhos, ajuda de custo para realização de cursos e plano de previdência privada. O profissional deve analisar a remuneração total".
Aprendizado que fará diferença
Para o consultor de carreira do Grupo Catho, Renato Waberski, é importante também levar em conta o aprendizado. "O que se está aprendendo e adquirindo, em termos de conhecimento, fará diferença daqui a dez anos". Em alguns casos, é interessante ainda olhar para o porte da empresa. "Muitas vezes, ter no currículo uma empresa de renome abre as portas", garante ele.
Por fim, antes de aceitar um emprego, reflita sobre o que deseja para si. Por exemplo, um jornalista pode trabalhar em rádio, televisão, jornal impresso, internet, assessoria de imprensa. As opções são inúmeras.
Por isso, descortine quais atividades irá executar em determinado emprego e verifique se elas estão de acordo com suas aspirações profissionais. Isso é importante, pois o primeiro emprego com carteira assinada é capaz de determinar o restante de sua carreira. "Converse com profissionais daquele ramo específico e tente entender o dia-a-dia dele. Longe do glamour, algumas profissões são bem difíceis", recomenda Witt.
Quando a remuneração deve preocupar
Existe um momento, entretanto, que a remuneração deve ser motivo de preocupação sim. "O profissional no início de sua carreira está ainda em uma curva de aprendizado muito grande, na qual absorve mais informações do que gera para a empresa. A partir do momento em que o profissional deixa de ser um potencial e torna-se efetivamente uma realidade em termos de entrega de resultados, a remuneração passa a ser motivo de preocupação, e o profissional deve almejar um reconhecimento financeiro", diz o sócio da MindSearch.
Para Waberski, o salário deve ser foco a partir do momento em que o profissional investe bastante em sua formação, com cursos de especialização, de idiomas, viagens internacionais e, ao mesmo tempo, se esforça muito, no dia-a-dia, para atingir os resultados. "Fazendo tudo isso, cedo ou tarde, ele deve ter retorno financeiro".
E se o salário não aumenta?
Grange ressalta que, caso o profissional não se sinta devidamente reconhecido, vale a pena refletir sobre algumas perguntas:
* Será que, efetivamente, estou de acordo com o que a empresa espera?
* Qual o feedback que tenho do meu gestor?
* O quanto estou engajado na execução de atividades e na melhoria da estratégia da empresa?
"Se as respostas para essas perguntas mostrarem um crescimento profissional, porém um reconhecimento negativo no que se refere à remuneração, talvez seja o momento para uma mudança, já que o profissional simplesmente não está sendo reconhecido financeiramente, embora entregue ou supere as expectativas de seus gestores. Entretanto, é necessário ficar atento, pois, muitas vezes, entregar o que é descrito em seu job description não é o que as empresas esperam. Geralmente, os profissionais que trazem o algo mais são aqueles que irão sair do lugar comum e são promovidos", enfatiza Grange.
Waberski reconhece que um dos principais motivos para as pessoas procurarem outro emprego é a estagnação do salário. "Elas devem descobrir qual é seu valor no mercado e buscar um lugar ao sol". Witt finaliza lembrando que o profissional deve analisar não somente o quanto cresceu tecnicamente, mas também no âmbito comportamental.
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